Vão completar sete anos de que se
tentou instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito na Assembleia Legislativa
do Pará para apurar as irregularidades no Poder legislativo do Estado do Pará.
Havia suspeita de desvios de R$ 80 mil a R$ 1 milhão por mês, somente na folha
de pagamento. Licitações e contratos também foram apurados, assim como o
recolhimento de impostos federais. Também haviam suspeitas de simulação de
compras e serviços de materiais, como aluguel de veículos e obras, e sonegação
de imposto de renda e da contribuição à Previdência Social.
As
denuncias eram de todos os tipos e pra todos os lados, desde os funcionários (como
a famigerada e elegante srta Mônica Pinto); deputados (como o craque RobGol que
ficou marcado por conta dos R$ 500 mil em espécie e mais R$ 40 mil em
tíquetes-alimentação encontrados em sua residência); empresas (como a fantasma
‘Crock Tapioca’ e a ‘Tópicos Comércio de Gêneros Alimentícios Ltda’); bancos (como
o Banpará), licitações fraudulentas (como a da Ideal Turismo), ‘funcionários
fantasmas’, nepotismo, excesso de cargos comissionados, etc..
A proposta de CPI, como era de se
esperar, foi rejeitada, pois a maioria dos partidos estavam envolvidos nas
denúncias. Isso demonstra que não é um problema de moralidade de alguns
políticos, trata-se de um problema estrutural.
Lembro-me
de uma cena interessante na Paróquia São Francisco Xavier, na Mauriti, onde o
Padre Bruno estava tentando recolher assinaturas para a abertura da CPI e
acabou se indignando com a falta de interesse dos fieis. O padre Bruno é
experiente, já devia estar acostumado com a indiferença da maioria das pessoas
com relação a estas questões graves e que já fazem parte da nossa cultura
individualista e ‘barganhista’. Claro que ele teria mais sucesso se os meios de
comunicação paraenses caíssem tão pesado quanto a imprensa nacional caiu sobre
o governo do PT recentemente.
Este
tipo de escândalo apenas demonstra a maneira patrimonialista-clientelista que
são geridos os órgãos públicos do país, onde não há uma separação de
interesses. O Estado é quase sempre utilizado para interesses particulares.
Muitos
políticos que foram presidentes da ALEPA são citados nesta gravação feita pelo
dono da Croc Tapioca - José Carlos Rodrigues com Sérgio Duboc (ex-diretor
Finaceiro da ALEPA) e o ex-integrante da Comissão de Licitação - Sandro Matos:
Em
nosso país a Democracia se resume em eleição, onde se vende a ideia de que o
voto é a única arma de transformação que o cidadão tem para exercer seus
direitos políticos; e a única maneira de nós ‘participarmos’ da vida política
do país é escolhendo o nosso ‘representante’; e que a única forma de se ‘fiscalizá-los’
é esperar a outra eleição para escolher outro candidato; e que trocando os
políticos os problemas se resolverão.
Já
fazem mais de vinte e sete anos que estamos neste ciclo vicioso e as coisas só
estão piorando; e os brasileiros se sentem cada vez menos ‘representados’ pelos
políticos eleitos...
Neste
momento em que a operação Lava-Jato está em alta, é necessário refletir se o
problema realmente está apenas em alguns grupos político-partidários e em
determinadas empresas, ou se não está na hora de questionarmos as estruturas
deste modelo político-econômico e da ‘Democracia’ em que vivemos...